O que aconteceu nesta manhã de sol alto e céu azul?
- Acaso não sabes que estamos em outubro;
Que a cidade se enfeita neste festivo mês atípico;
Que nossos corações alegram os rostos d’outros?
Por que tanta luminosidade, tantos enfeites, adereços?
- Acaso não sentes a proximidade do grande evento;
Não percebes a agitação alegre movendo essas pessoas;
Não palpita teu coração em ansiedade generosa e pura?
Mas, o porquê de tantas manifestações é plausível ou lúdico?
- Acaso não é do teu conhecimento que um amor maior se aproxima;
Não te falaram das promessas, das lágrimas, dos pés encarnados;
Não descreveram o manto singular cravado de pedras brilhantes;
Não te ensinaram a rogar em teus momentos de aflição e desespero?
Se é religiosa e profana, não entendi a razão. Então por quê?
- Acaso não sabes que o religioso tende suavemente ao profano;
Não te disseram que milhões de pessoas se vestem de fé e devoção;
Que carregam sobre si promessas, pedidos ou causas resolvidas;
Que acordam a corda adormecida, forçada, ferida e, por fim, dividida?
Não poderei me inserir nem participar porque sou ateu!
- Acaso nunca pediste ou pensaste na mãe de Deus, tua mãe;
Nunca choraste por uma criança desnuda e faminta caída no chão;
Nunca sentiste nas entranhas a dor inglória da fome não saciada;
Nunca notaste a mão que te carregou nas tuas maiores provações?
Por que tanta descrença no âmago do teu carente coração?
Das tuas dúvidas e mágoas não sei o motivo nem por quê
Mas posso me fazer entender porque carrego a fé dentro de mim
Então entenda e sinta livremente o porquê de tanto regozijo...
É a pequena imagem que se agiganta sob mangueiras e proteção
É a flor na berlinda linda que ilumina e protege, ainda.
É o manto único, enfeitado e brilhante, que emociona e vai.
É a chuva de papéis picados que encanta, não molha e cai
É o canto do cantador que encanta enquanto passa a santa
É o barulho dos fogos que tremem meus pés descalços no chão.
É a pedra, a casa ou o barco levados sobre as cabeças da multidão
É a mesa farta e típica que reúne, ao seu redor, a família que canta
É, por fim, a fé sem fronteiras, sem raça,sem cor ou religião.
É chama
É vela
É sol ardente
É fé
...é o Círio de Nossa Senhora de Nazaré.
BRAZ BRANCO
02/10/2009,