Acorda, menino!
Que a corda e o círio já são um rastro inerente
Já passa das seis e o povo se move em romaria
À santa, abençoada, segue a fé que o povo guia
E navega, indelével, sobre o rio-mar de gente
Acorda, menino!
Pois a corda que, contigo, no chão adormecia
Ascende ao céu por mãos em indelével torpor
Disputada no parco espaço de dedos feridos
Preterido o gemido, o sangue fluindo, a dor
Acorda, menino!
Pega na parte que te cabe neste estranho mundo
Busca tua fé nessa empreita, sol à pino, vai fundo
E deixa o suor, teu sangue no chão, tuas pegadas
Que a corda arrasta outros pés nessa mesma estrada
A corda, menino.
Faz dela a extensão dos teus braços ativos
Do sisal entrelaçado, tuas veias, teu traço
Aperta com a força gigante que move tua fé
Aconchega, envolve e protege tua mãe Nazaré
Recorda outras cordas, outros círios vãos
Concorda ser essa corda a melhor, a razão
Dá corda pra que a santa se sinta incluída
Pra corda enlaçar toda a esperança atraída
Faz corda com os braços, se a corda quebrar
Pra corda de braços e paz, o mundo abraçar.
Acorda, menino...!